Vamos debater???
Professor: Após ler o texto abaixo sobre o currículo oculto e o currículo prescrito, comente sobre sua interferência em sala de aula na aprendizagem do aluno.
CURRÍCULO OCULTO
O
currículo oculto pode ser definido como o que os alunos aprendem na escola, por
causa do modo como as atividades estão planejadas e organizadas, mas não se
inclui explicitamente no conjunto das
aprendizagens propostas, embora possa corresponder a intenções reais, que não
são assumidas explicitamente pelos responsáveis pelo sistema escolar.
É
importante destacar e ter consciência de que o currículo oculto é uma realidade
sempre presente na escola. Ou seja, é necessário que não se ignore que em
qualquer atividade educativa há resultados imprevistos ou não intencionais que
podem até ser mais significativos e importantes do que tudo o que foi acertado
e planejado. Esses resultados são, aliás, um dos objetos centrais da análise
sociológica da educação. No entanto, na visão estrita da teoria do currículo,
por razões relacionadas com a clareza conceptual e terminológica, julga-se
preferível limitar a idéia de currículo ao âmbito do currículo prescrito, quer
dizer, ao conjunto estruturado de intenções formalizadas que servem de
orientação para a ação educativa:
Não há dúvida
quanto à importância desse conceito de currículo oculto, nem quanto à
necessidade de que os planejadores e os professores mantenham constantemente
diante de si as implicações desse conceito. Mas usar o termo “currículo” para
denotar esses tipos de aprendizagem equivale a impossibilitar o planejamento de
um currículo total, já que o termo está sendo usado para incluir experiências
que, por definição, não foram deliberadamente planejadas, e que não podem
sê-lo, pelo menos sem deixar de ser “ocultas”. (...) Talvez fosse melhor, portanto,
confinar o uso da palavra currículo às atividades planejadas ou que resultam de
alguma intenção, tratando esses outros tipos de aprendizagem como subprodutos
do currículo. (Kelly, 1981, p.4)
Sobre
o currículo oculto Apple (p. 128, 1982) destaca que o “aprendizado incidental”
contribui mais para a socialização política de um estudante que, digamos, as
aulas impostas pelo currículo prescrito ou outras formas de ensino deliberado
de orientação de valor específicas. Ensina-se às crianças como lidar e se
relacionar com a estrutura de autoridade da coletividade a que pertencem por
meio de padrões de interação a que estão expostas até certo ponto nas escolas.
Dessa
forma, Silva (2004) destaca que podemos afirmar que o currículo prescrito é um
conjunto de dispositivos pedagógicos composto por conteúdos, tradicionalmente
organizados nas áreas dos diferentes campos disciplinares, metodologias,
mecanismos de avaliação, definidos como os mais desejáveis dentro de uma
determinada ótica. O currículo oculto, por sua vez, conforme o próprio nome
indica, constitui-se nas normas, crenças e valores imbricados e transmitidos
aos alunos através de regras subjacentes que estruturam a rotina e as relações
sociais na escola e na vida da sala de aula. Assim, continua destacando Silva
(2004), essa dimensão de currículo é chamada de oculta, pois não aparece de
forma prescrita ou explícita no currículo oficial, mas é um poderoso
instrumento de formação das identidades de nossos alunos, e os valores nele
transmitidos são veiculados mediante os gestos, olhares, inclusão, valoração,
atributos baseados em binarismos como bom/mau, belo/feio, legítimo/ilegítimo
etc.
Nessa
linha de raciocínio, a organização do trabalho na escola não é composta apenas
por um conjunto de conteúdos escolares, que articulam em torno do currículo a
produção das ciências e dos saberes construídos historicamente pela humanidade
de forma neutra e apolítica. Simultaneamente à
transmissão dos saberes científicos em forma de conteúdos programáticos
organizados pelo currículo escolar, veiculam-se valores, imagens, hábitos,
representações, normas de conduta, gestos e maneiras prescritos por uma cultura
hegemônica, assim esses elementos são construídos histórica e culturalmente
pelos homens.
Assim,
o currículo oculto pode ser entendido como “normas e valores que são implícita
porém efetivamente transmitidos pelas escolas e que habitualmente não são
mencionados na apresentação feita pelos professores dos fins ou objetivos”
(Apple, 1982, p. 127), o conceito de currículo oculto aponta para o fato de que
o “aprendizado incidental” durante um curso pode contribuir mais para a
socialização do estudante que o conteúdo ensinado nesse curso. Ainda que
acentuando, em suas primeiras teorizações, o papel reprodutor da escola e do currículo,
a idéia de currículo oculto vem a ampliar-se e passa a significar não só o
terreno por excelência de controle social, mas também o espaço no qual se
travam lutas ideológicas e políticas, passível, portanto, de abrigar
intervenções que visem a mudanças sociais.
Procurando
resumir os aspectos acima mencionados, estamos entendendo currículo como as
experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio a
relações sociais, e que contribuem para a construção das identidades dos alunos.
Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços pedagógicos desenvolvidos
com intenções educativas. Por esse motivo, a palavra tem sido usada para todo e
qualquer espaço organizado para educar pessoas.
Cabe
destacar que a palavra currículo tem sido também utilizada para indicar efeitos
alcançados na escola, que não estão explicitados nos planos e nas propostas,
não sendo sempre, por isso, claramente percebidos pela comunidade escolar.
Trata-se do chamado currículo oculto, que envolve, dominantemente, atitudes e
valores transmitidos, subliminarmente, pelas relações sociais e pelas rotinas
do cotidiano escolar. Fazem parte do currículo oculto, assim, rituais e
práticas, relações hierárquicas, regras e procedimentos, modos de organizar o
espaço e o tempo na escola, modos de distribuir os alunos por grupamentos e
turmas entre outras. São exemplos de currículo oculto: a forma como a escola
incentiva a criança a chamar a professora; a maneira como arrumamos as
carteiras na sala de aula; as visões de família que ainda se encontram em
certos livros didáticos.
Que
conseqüências tais aspectos, sobre os quais muitas vezes não pensamos, podem
estar provocando nos alunos?Não seria importante identificá-los e verificar
como, nas práticas de nossa escola, poderíamos estar contribuindo para um
currículo oculto capaz de oprimir alguns de nossos alunos?
Dessa
forma não podemos continuar a ignorar que os diversos elementos que dão corpo
ao currículo prescrito e ao currículo oculto colocam em situação diferenciada
os alunos, e aqueles para quem a cultura escolar não é familiar ou que têm
estilos de experiências de vida diferentes dos que são privilegiados pela
escola estão em desvantagem face aos que dela estão mais próximos.
CURRÍCULO PRESCRITO
Como já foi mencionado, em todo sistema educativo existe algum tipo de prescrição, assim podemos considerar como currículo prescrito, os aspectos que atuam como referência na ordenação do sistema curricular servindo como ponto de partida para a elaboração de materiais, controle de sistema, etc.
Associado
a estas idéias que atravessam o currículo, tem sido sustentada a necessidade da
educação escolar trabalhar, para além da dimensão do saber, as dimensões do
ser, do formar-se, do transformar-se, do decidir, do intervir e do viver e
conviver com os outros. E tem sido reconhecido que este estilo de educação será
facilitado se os professores e os outros sujeitos educativos locais tiveram um
papel ativo nos processos de decisão da organização do currículo e do seu
desenvolvimento, ou seja, se participarem conscientemente na gestão curricular.
Parte-se da crença que “as escolas são instituições capazes de construírem a
mudança necessária aos desafios que as diversas realidades criam atualmente à
educação escolar e, por isso, deve-lhes ser reconhecido poder de decisão”
(Leite, C., 2000: 23).
Nesta perspectiva, a escola é
entendida como uma instituição “curricularmente inteligente” (Leite, C.,
2000b), no sentido em que os seus membros aprendem individual e coletivamente
por forma a construírem mudanças. Uma escola curricularmente inteligente não se
limita, pois, “a administrar e a distribuir conhecimentos, na lógica de um
pensamento linear e convergente, promove práticas onde se desenvolvem a
criatividade e competências de ordem cognitiva, afetiva e social ... e que não
depende exclusivamente de uma gestão que lhe é exterior” (ibidem: 3). É uma
escola que se orienta pelo princípio da flexibilização e que recorre a
processos de gestão participativa.
O
conceito de flexibilização curricular, tem, subjacente a idéia de que o
currículo prescrito a nível nacional tem mais probabilidades de se adequar às
especificidades das populações escolares, e de cada situação, se nele
intervierem os sujeitos educativos locais. No entanto, este conceito de flexibilização
do currículo não é, por vezes, completamente claro, tanto no que ele significa
como no que implica.
Referências Bibliográficas:
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D’ADESKY,
Jacques. Racismos e anti-racismos no
Brasil; pluralismo étnico e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Pallas, 2001.
KELLY, A. V. O
currículo. Teoria e Prática.São Paulo, Harbra.1981.
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Flavio Barbosa, e SILVA, Tomaz Tadeu da. Sociologia e Teoria Crítica do
Currículo: uma introdução In _____. Currículo, Cultura e Sociedade..
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SACRISTÁN, J.
G., O currículo :uma reflexão sobre a pratica. Porto Alegre. ArtMed, 2000.
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Tadeu da. Os novos mapas culturais e o lugar do currículo numa paisagem pós-moderna.
In: SILVA, T. T. e MOREIRA, A F.
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Vieira. CUNHA, Myrtes Dias (Org). Políticas e práticas docentes alternativas em
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Souza, Rosa
Fátima de. História da organização do trabalho escolar e do currículo no século
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VEIGA-NETO,
Alfredo. De geometrias, currículo e diferenças. In: Revista
Educação e Sociedade, ano XXIII, nº 79, Agosto de 2002.
Muito bem colocado. Esta é uma matéria atual, que deve ser repensada por nossos educadores.
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