sexta-feira, 19 de outubro de 2012

TEXTO PARA DEBATE DOS DOCENTES DA ESCOLA ALTERNATIVA: Curriculo Oculto e Curriculo prescrito


Vamos debater???

Professor: Após ler o texto abaixo sobre o currículo oculto e o currículo prescrito, comente sobre sua interferência em sala de aula na aprendizagem do aluno.

CURRÍCULO OCULTO
O currículo oculto pode ser definido como o que os alunos aprendem na escola, por causa do modo como as atividades estão planejadas e organizadas, mas não se inclui  explicitamente no conjunto das aprendizagens propostas, embora possa corresponder a intenções reais, que não são assumidas explicitamente pelos responsáveis pelo sistema escolar.
É importante destacar e ter consciência de que o currículo oculto é uma realidade sempre presente na escola. Ou seja, é necessário que não se ignore que em qualquer atividade educativa há resultados imprevistos ou não intencionais que podem até ser mais significativos e importantes do que tudo o que foi acertado e planejado. Esses resultados são, aliás, um dos objetos centrais da análise sociológica da educação. No entanto, na visão estrita da teoria do currículo, por razões relacionadas com a clareza conceptual e terminológica, julga-se preferível limitar a idéia de currículo ao âmbito do currículo prescrito, quer dizer, ao conjunto estruturado de intenções formalizadas que servem de orientação para a ação educativa:
Não há dúvida quanto à importância desse conceito de currículo oculto, nem quanto à necessidade de que os planejadores e os professores mantenham constantemente diante de si as implicações desse conceito. Mas usar o termo “currículo” para denotar esses tipos de aprendizagem equivale a impossibilitar o planejamento de um currículo total, já que o termo está sendo usado para incluir experiências que, por definição, não foram deliberadamente planejadas, e que não podem sê-lo, pelo menos sem deixar de ser “ocultas”. (...) Talvez fosse melhor, portanto, confinar o uso da palavra currículo às atividades planejadas ou que resultam de alguma intenção, tratando esses outros tipos de aprendizagem como subprodutos do currículo. (Kelly, 1981, p.4)

Sobre o currículo oculto Apple (p. 128, 1982) destaca que o “aprendizado incidental” contribui mais para a socialização política de um estudante que, digamos, as aulas impostas pelo currículo prescrito ou outras formas de ensino deliberado de orientação de valor específicas. Ensina-se às crianças como lidar e se relacionar com a estrutura de autoridade da coletividade a que pertencem por meio de padrões de interação a que estão expostas até certo ponto nas escolas.
Dessa forma, Silva (2004) destaca que podemos afirmar que o currículo prescrito é um conjunto de dispositivos pedagógicos composto por conteúdos, tradicionalmente organizados nas áreas dos diferentes campos disciplinares, metodologias, mecanismos de avaliação, definidos como os mais desejáveis dentro de uma determinada ótica. O currículo oculto, por sua vez, conforme o próprio nome indica, constitui-se nas normas, crenças e valores imbricados e transmitidos aos alunos através de regras subjacentes que estruturam a rotina e as relações sociais na escola e na vida da sala de aula. Assim, continua destacando Silva (2004), essa dimensão de currículo é chamada de oculta, pois não aparece de forma prescrita ou explícita no currículo oficial, mas é um poderoso instrumento de formação das identidades de nossos alunos, e os valores nele transmitidos são veiculados mediante os gestos, olhares, inclusão, valoração, atributos baseados em binarismos como bom/mau, belo/feio, legítimo/ilegítimo etc.
Nessa linha de raciocínio, a organização do trabalho na escola não é composta apenas por um conjunto de conteúdos escolares, que articulam em torno do currículo a produção das ciências e dos saberes construídos historicamente pela humanidade de forma neutra e apolítica. Simultaneamente à  transmissão dos saberes científicos em forma de conteúdos programáticos organizados pelo currículo escolar, veiculam-se valores, imagens, hábitos, representações, normas de conduta, gestos e maneiras prescritos por uma cultura hegemônica, assim esses elementos são construídos histórica e culturalmente pelos homens.
Assim, o currículo oculto pode ser entendido como “normas e valores que são implícita porém efetivamente transmitidos pelas escolas e que habitualmente não são mencionados na apresentação feita pelos professores dos fins ou objetivos” (Apple, 1982, p. 127), o conceito de currículo oculto aponta para o fato de que o “aprendizado incidental” durante um curso pode contribuir mais para a socialização do estudante que o conteúdo ensinado nesse curso. Ainda que acentuando, em suas primeiras teorizações, o papel reprodutor da escola e do currículo, a idéia de currículo oculto vem a ampliar-se e passa a significar não só o terreno por excelência de controle social, mas também o espaço no qual se travam lutas ideológicas e políticas, passível, portanto, de abrigar intervenções que visem a mudanças sociais.
Procurando resumir os aspectos acima mencionados, estamos entendendo currículo como as experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio a relações sociais, e que contribuem para a construção das identidades dos alunos. Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas. Por esse motivo, a palavra tem sido usada para todo e qualquer espaço organizado para educar pessoas.
Cabe destacar que a palavra currículo tem sido também utilizada para indicar efeitos alcançados na escola, que não estão explicitados nos planos e nas propostas, não sendo sempre, por isso, claramente percebidos pela comunidade escolar. Trata-se do chamado currículo oculto, que envolve, dominantemente, atitudes e valores transmitidos, subliminarmente, pelas relações sociais e pelas rotinas do cotidiano escolar. Fazem parte do currículo oculto, assim, rituais e práticas, relações hierárquicas, regras e procedimentos, modos de organizar o espaço e o tempo na escola, modos de distribuir os alunos por grupamentos e turmas entre outras. São exemplos de currículo oculto: a forma como a escola incentiva a criança a chamar a professora; a maneira como arrumamos as carteiras na sala de aula; as visões de família que ainda se encontram em certos livros didáticos.
Que conseqüências tais aspectos, sobre os quais muitas vezes não pensamos, podem estar provocando nos alunos?Não seria importante identificá-los e verificar como, nas práticas de nossa escola, poderíamos estar contribuindo para um currículo oculto capaz de oprimir alguns de nossos alunos?
Dessa forma não podemos continuar a ignorar que os diversos elementos que dão corpo ao currículo prescrito e ao currículo oculto colocam em situação diferenciada os alunos, e aqueles para quem a cultura escolar não é familiar ou que têm estilos de experiências de vida diferentes dos que são privilegiados pela escola estão em desvantagem face aos que dela estão mais próximos.

CURRÍCULO PRESCRITO
     
       Como já foi mencionado, em todo sistema educativo existe algum tipo de prescrição, assim podemos considerar como currículo prescrito, os aspectos que atuam como referência na ordenação do sistema curricular servindo como ponto de partida para a elaboração de materiais, controle de sistema, etc. 
        Associado a estas idéias que atravessam o currículo, tem sido sustentada a necessidade da educação escolar trabalhar, para além da dimensão do saber, as dimensões do ser, do formar-se, do transformar-se, do decidir, do intervir e do viver e conviver com os outros. E tem sido reconhecido que este estilo de educação será facilitado se os professores e os outros sujeitos educativos locais tiveram um papel ativo nos processos de decisão da organização do currículo e do seu desenvolvimento, ou seja, se participarem conscientemente na gestão curricular. Parte-se da crença que “as escolas são instituições capazes de construírem a mudança necessária aos desafios que as diversas realidades criam atualmente à educação escolar e, por isso, deve-lhes ser reconhecido poder de decisão” (Leite, C., 2000: 23).
    Nesta perspectiva, a escola é entendida como uma instituição “curricularmente inteligente” (Leite, C., 2000b), no sentido em que os seus membros aprendem individual e coletivamente por forma a construírem mudanças. Uma escola curricularmente inteligente não se limita, pois, “a administrar e a distribuir conhecimentos, na lógica de um pensamento linear e convergente, promove práticas onde se desenvolvem a criatividade e competências de ordem cognitiva, afetiva e social ... e que não depende exclusivamente de uma gestão que lhe é exterior” (ibidem: 3). É uma escola que se orienta pelo princípio da flexibilização e que recorre a processos de gestão participativa.
O conceito de flexibilização curricular, tem, subjacente a idéia de que o currículo prescrito a nível nacional tem mais probabilidades de se adequar às especificidades das populações escolares, e de cada situação, se nele intervierem os sujeitos educativos locais. No entanto, este conceito de flexibilização do currículo não é, por vezes, completamente claro, tanto no que ele significa como no que implica.


Referências Bibliográficas:
APPLE, M. Ideologia e Currículo. São Paulo: Brasiliense, 1982.
D’ADESKY, Jacques.  Racismos e anti-racismos no Brasil; pluralismo étnico e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Pallas, 2001.
KELLY, A. V. O currículo. Teoria e Prática.São Paulo, Harbra.1981.
MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa, e SILVA, Tomaz Tadeu da. Sociologia e Teoria Crítica do Currículo: uma introdução In _____. Currículo, Cultura e Sociedade.. São Paulo, Cortez, 2002.
SACRISTÁN, J. G., O currículo :uma reflexão sobre a pratica. Porto Alegre. ArtMed, 2000.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Os novos mapas culturais e o lugar do currículo numa paisagem pós-moderna. In: SILVA, T. T.  e MOREIRA, A F. (Orgs.). Territórios contestados. Petrópolis: Vozes, 1995.
SILVA. Maria Vieira. CUNHA, Myrtes Dias (Org). Políticas e práticas docentes alternativas em construção.In: O enfoque do negro no currículo escolar:algumas possibilidades de ressignificação. Edufu, Uberlândia, 2004.
Souza, Rosa Fátima de. História da organização do trabalho escolar e do currículo no século XX: (ensino primário e secundário no Brasil). São Paulo. Cortez, 2008.
VEIGA-NETO, Alfredo. De geometrias, currículo e diferenças. In: Revista Educação e Sociedade, ano XXIII, nº 79, Agosto de 2002.

BREVE HISTÓRICO DO CURRÍCULO


                                            BREVE HISTÓRICO DO CURRÍCULO

Para a construção desse artigo que tem como enfoque analisar do currículo prescrito ao currículo oculto, consideramos de extrema importância fazermos um breve histórico sobre a história do Currículo. Segundo Silva (2002) o currículo, como um campo de estudo delimitado, emergiu especialmente  nos Estados Unidos, nas primeiras décadas do século XX.  Os primeiros estudos do campo, neste país, foram realizados em função de proporcionar um melhor planejamento curricular, baseado na eficiência e na racionalização do trabalho escolar.  Com influências marcantes da experiência norte-americana, no Brasil, o campo do currículo ganhou visibilidade nas décadas de 1960 e 1970, quando especialistas  brasileiros  elegeram  a  preocupação  com  a  construção "científica",  na  escola,  de  um  ambiente  que  pudesse  proporcionar  aos  educandos possibilidades de instrumentalização para a obtenção de metas pré-definidas.
 A incorporação desse movimento associado ao pensamento de teóricos  americanos,  na  época,  levantou  o tecnicismo, nomenclatura utilizada por toda a área educacional para se referir, tanto a práticas pedagógicas quanto à concepção de educação.  Somente por volta de 1970, é que surgiram, na Inglaterra, e posteriormente,  nos  Estados  Unidos,  os  estudos  críticos  do  campo  curricular.  Estes estudos  romperam  com  a  visão  tecnicista  imperante  e  introduziram  conceitos  que buscavam compreender e explicar as diversas relações que ocorrem no currículo, assim como os  processos  de  seleção  e  organização  dos  conhecimentos  escolares.    Esta  visão  crítica  dá início, então, a uma discussão sobre a relação entre a estratificação dos saberes escolares e a estratificação  social. 
 No Brasil, somente no final da década de 1980  é  que  as  discussões  em torno do currículo focaram sua atenção para a seleção do conhecimento escolar e seus efeitos nos resultados de aprendizagem das crianças brasileiras, influenciadas pelos estudos da teoria crítica de currículo, acontecidas dos Estados Unidos e Inglaterra, principalmente. 
De certa forma, então, um currículo guarda estreita correspondência com a cultura na qual ele se organizou, de modo que ao analisarmos um determinado currículo, poderemos inferir não só os conteúdos que, explícita ou  implicitamente,  são vistos como  importantes  naquela  cultura, como,  também, de que maneira aquela cultura prioriza  alguns  conteúdos  em  detrimento  de  outros,  isto  é,  podemos  inferir  quais foram  os  critérios  de  escolha  que  guiaram  os  professores,  administradores, curriculistas  etc.  que  montaram  aquele  currículo.    Esse é o  motivo  pelo  qual  o currículo  se situa no cruzamento entre a escola e a cultura. (VEIGA-NETO, 2002, p.44)
Assim, como apresenta Souza (2008), se todo currículo ou programa de estudos opera uma seleção no interior da cultura, daí decorre a importância das escolas como instâncias de preservação da herança cultural de uma época.
Dessa forma, ao discutirmos a diversidade cultural, não podemos nos esquecer de pontuar que ela se dá lado a lado com a construção dos  processos de identidades. Assim como a diversidade, a identidade, enquanto processo, não é inata. Ela se constrói em determinado contexto histórico, social, político e cultural. Jacques d’Adesky (2001) destaca que a identidade, para se constituir como realidade, pressupõe uma interação. A idéia que um indivíduo faz de si mesmo, é intermediada pelo reconhecimento obtido dos outros em decorrência de sua ação.
Tomaz Tadeu da Silva elaborou um mapa dos estudos  sobre currículo, desde  sua gênese nos anos vinte, onde aparecem três categorias de teorias do currículo, com base nos conceitos que são enfatizados. As teorias tradicionais enfatizam “ensino, aprendizagem, avaliação metodologia, didática, organização, planejamento, eficiência, objetivos”. As  teorias críticas enfatizam “ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe social, capitalismo, relações sociais de produção, conscientização, emancipação e libertação, currículo oculto e resistência”. Finalmente, as teorias pós-críticas enfatizam “identidade, alteridade, diferença, subjetividade, significação e discurso, saber-poder, representação, cultura, gênero, raça, etnia, sexualidade, multiculturalismo” (1995, p. 17).

Assista o vídeo abaixo e faça uma reflexão:








Devemos nos atentar para a importância do conhecimento e entendimento do que vem a ser currículo prescrito e currículo como prática. Como nos diz Goodson (1995) a palavra currículo é o centro de muitos debates, pois, 
Em certo sentido, a promoção do conceito de “currículo como fato” responde pela priorização do “estabelecimento” intelectual e político do passado, tal como está inserido no currículo escrito. Já o “currículo como prática” dá precedência à ação contemporânea pré-ativa (GOODSON, 1995, p. 19).
A diferenciação dessas duas dimensões do currículo remete ao nosso problema de pesquisa, já que pretendemos analisar como o professor pauta sua prática (o currículo como prática) a partir das orientações presentes no currículo prescrito.
Gimeno  Sacristán  (2000, p.104-5)  propõe um modelo de interpretação do currículo como algo construído no cruzamento de influências e campos de  atividade diferenciados e inter-relacionados. Ele nos esclarece o significado desses níveis ou fases na objetivação do significado do currículo: 

- O currículo prescrito – em todo sistema educativo existe algum tipo de prescrição, são os aspectos que atuam como referência na ordenação do sistema curricular servindo como ponto de partida para a elaboração de materiais, controle de sistema, etc. 
- O currículo apresentado aos professores  –  série de meios elaborados por diferentes instâncias que costumam traduzir aos professores o significado e os conteúdos do currículo prescrito.
- O currículo moldado pelos professores – como agente ativo, o professor molda a partir de sua cultura profissional, qualquer proposta que lhe é feita, intervindo na configuração dos significados das propostas curriculares.
- O currículo em ação – é na pratica, guiada pelos esquemas teóricos e práticos do  professor, concretizando-se nas tarefas acadêmicas, as quais, como elementos básicos, sustentam o que é a ação pedagógica, que podemos notar o significado do que são as propostas curriculares.
- O currículo realizado – como conseqüência da prática se produzem efeitos complexos dos mais diversos tipos: cognitivo, afetivo, social, moral, etc. são observados por serem considerados “rendimentos” valiosos e proeminentes do sistema ou métodos pedagógicos.
- O currículo avaliado – através dele se reforça um significado definido na prática do que é realmente. Pressões exteriores levam a ressaltar na avaliação aspectos do currículo talvez coerente, talvez incongruentes com os propósitos de quem prescreveu o currículo, de quem o elaborou, ou com os objetivos do próprio professor .
            Tendo apresentado todas as dimensões e significados de currículo, este trabalho investigará se o currículo prescrito atua como referência na ordenação do sistema curricular.

EDUCAÇÃO ESCOLAR: DO CURRÍCULO PRESCRITO AO CURRÍCULO OCULTO



         Esse espaço foi criado para que o grupo de professores da escola ALTERNATIVA possa discutir, estudar e debater sobre o currículo no espaço escolar. Fiquem a vontade para usar esse espaço !!!! Você é nosso convidado.
         Então vamos começar nosso estudo???

Introdução:
  
       O currículo é um elo entre a declaração de princípios gerais e sua tradução operacional, entre a teoria educacional e a prática pedagógica, entre o planejamento e a ação, entre o que é prescrito e o que realmente sucede nas salas de aula.
    Dessa forma, este artigo tem como objetivo analisar do currículo prescrito, ou seja, do conjunto de dispositivos pedagógicos composto por conteúdos, tradicionalmente organizados nas áreas dos diferentes campos disciplinares, metodologias, mecanismos de avaliação, definidos como os mais desejáveis dentro de uma determinada ótica, ao currículo oculto que por sua vez, conforme o próprio nome indica, constitui-se nas normas, crenças e valores  transmitidos aos alunos através de regras subjacentes que estruturam a rotina e as relações sociais na escola e na vida da sala de aula.